terça-feira, 13 de março de 2012

A Modernidade Líquida: prefácio e capítulo 3

As leituras dos textos de Modernidade Líquida (2001), obra do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, mais especificamente o prefácio, Ser Leve e Líquido, e o capítulo 3, Tempo/Espaço, trazem à tona algumas das discussões a respeito de temas ligados a atual sociedade.
Inicialmente, o autor trás as metáforas da “fluidez” ou “liquidez” como representantes do atual estágio da era moderna. Para o autor, os fluidos, diferentemente dos sólidos, possuem algumas características que melhor representam a era atual, como, por exemplo, a relação com o tempo e o espaço. Os fluidos não possuem uma forma inicial definida e, por não manterem qualquer forma com facilidade, estão sempre prontos a mudá-la, de acordo com o recipiente que lhes é apresentado. Os sólidos, por sua vez, por possuírem uma forma definida estão sempre “fixos” no espaço, conferindo pouca importância ao significado de tempo, já que, a priori, tenderão a manter sempre a mesma forma. Para os fluídos, o “tempo” conta mais do que o “espaço”, uma vez que os espaços tomados pelos fluídos somente serão ocupados em um determinado instante.
Segundo Bauman, a mobilidade, a inconstância e a rapidez, típicos dos fluídos, podem ser representados na modernidade através da nova importância dada àquilo que é durável. A durabilidade, outrora reconhecida e alardeada como característica importante dos produtos à venda, por exemplo, se mostra hoje um tanto quanto frágil diante da rapidez com que eles são substituídos. Para os grandes empresários da era moderna, a substituição, e não o durável, proporciona melhores margens de lucro, diferentemente do que em épocas passadas, onde o que importava realmente era fixar suas posses e repassá-las através das gerações familiares.
No capítulo 3, Bauman promove uma reflexão sobre tempo e espaço através da ótica da “modernidade leve” e da “modernidade pesada”.
Com relação ao espaço, neste caso o público não civil (não propício a práticas individuais de civilidade), o autor diferencia duas categorias: espaços que desencorajam a permanência e não favorecem a interação, e espaços sem interação social real, que privilegiam, sobretudo, o consumo. Os espaços da primeira categoria possuem ambientes imponentes, sem aconchego, como verdadeiras fortalezas, servindo para serem admirados e não visitados, tais como muitas praças cercadas por seus suntuosos prédios e tomadas pelo vai-e-vem das pessoas. Na segunda categoria, a função primordial seria transformar as pessoas em consumidores, sendo o consumo um ato absolutamente individual e não coletivo, por mais cheios que estejam os lugares de consumo, tais como shopping centers e pontos turísticos, por exemplo.
A ideia de espaço e tempo, segundo o autor, vem mudando com o advento da modernidade. Há algum tempo, os significados de palavras como “longe” e “perto”, “cedo” e “tarde”, não eram muito diferentes, uma vez que expressavam o esforço necessário para um ser humano percorrer uma determinada distância. Mesmo quando essas distâncias eram percorridas a pé ou a cavalo, por exemplo, a diferença de tempo e espaço não era tão gritante quanto hoje, uma vez que percorrer uma determinada distância usando as próprias pernas ou valendo-se da tração animal em nada se compara, com relação a tempo e espaço, a diferença abissal em percorrer distâncias a pé ou à bordo de um avião supersônico. O “hardware” passou a determinar a relação tempo-espaço.
Acontece que a era do hardware, ou “modernidade pesada”, definida por Max Weber como “era da racionalidade instrumental”, onde o tamanho das máquinas e a quantidade de aço e concreto estavam relacionados ao poder, ficou para trás. Agora, surge o “capitalismo de software” e da “modernidade leve”.
Na era do software, conforme Bauman, as diferenças entre tempo e espaço não mais existem. Os limites impostos pelo espaço perderam o sentido, pois pode-se, na era do software, alcançar todas as partes do espaço a qualquer momento, em qualquer instante. A esse respeito, pesam as possíveis consequências do imediatismo da era do software, onde o instantâneo, a realização imediata, podem significar, dentre outras coisas, a perda gradativa do interesse pela realização.
Bauman, em uma comparação entre as modernidades pesada e leve, desconstrói a ideia de que elas sejam totalmente diferentes e que não tenham nenhuma conexão. Para Bauman houve, sim, uma mudança de conteúdo, uma nova roupagem, onde, na era do software, as pessoas que se movem mais rapidamente, no ato, mandam nas que não podem deixar o seu lugar ou não conseguem mover-se com tanta rapidez. Ou seja, na modernidade leve, ou líquida, mandam os que são livres, “desengajados”, que não sentem remorso em substituir, que evitam o durável e cultivam o desapego.
Na era moderna estamos cada vez mais acostumados ao instantâneo, à velocidade proporcionada, principalmente, pelo avanço das tecnologias digitais, que estão cada vez mais presentes e disseminadas e possuem a capacidade de influenciar a vida humana das mais variadas formas. O ciberespaço, esse ambiente dotado de comportamento fluido, típico da modernidade, mudou, e vem mudando, radicalmente o convívio humano, e, embora em um primeiro momento esteja associado ao desapego, ao súbito, pode favorecer e proporcionar construções coletivas e colaborativas através de ações participativas dos seus navegantes.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001 (Prefácio e capítulo 3).

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