sábado, 29 de setembro de 2012

Inclusão digital: inserir ou realmente incluir?

Muito férteis têm sido as discussões coletivas a respeito dos temas abordados no decurso da nossa disciplina. Com o tema Inclusão Digital não poderia ser diferente.

Em um primeiro momento, podemos achar que o termo é autoexplicativo: ora, inclusão digital significa incluir digitalmente, certo? Depende do ponto de vista...ou não!

O termo inclusão, de certa forma, é sempre bem visto e aceito onde quer que seja utilizado: inclusão social, inclusão no mercado de trabalho, inclusão digital... Incluir, resumiriam alguns, é criar estratégias que possibilitem que os sujeitos tenham acesso àquilo que lhes falta. Incluir, então, seria um 'ato de bondade' dos que estão “incluídos” perante os desafortunados “excluídos”.

Seria esse, então, o motivo do termo ser tão deleitável para a maioria das pessoas? Valendo-se disso, as políticas públicas (ou políticas de governo, já que muitas mudam de acordo com o partido que domina o cenário político do momento) se valem do discurso da inclusão para melhor aceitação ao invés de se debruçar à luz do verdadeiro problema que está posto? A inclusão serviria somente, como comenta o colega Júlio, como bandeira política para a captação de recursos que serviriam a projetos desarticulados e sem sintonia com os anseios dos cidadãos?

Podemos perceber que muitas ações de inclusão digital partem do princípio que esta se dará (e estará completa) a partir do momento em que os sujeitos, ora ditos excluídos (ou não incluídos), tenham acesso aos artefatos digitais, aqui vistos como computadores, laptops, tablets, e seus congêneres. Pois bem, partindo desse princípio, a solução para o “problema” seria então facilitar a aquisição desses artefatos por meio de ações que proporcionassem a redução do preço final dos equipamentos, através, por exemplo, da redução da carga tributária, da ampliação das linhas de crédito tanto para compradores quanto para os fabricantes, dentre outras campanhas.

Além de facilitar a compra dos artefatos, o treinamento dos novo “usuários” seria parte fundamental do “pacotão inclusivo”. Programas para capacitar no uso das tecnologias seriam fundamentais para a criação de uma força de trabalho melhor, mais produtiva e apta, que esteja pronta para fazer um melhor uso de todo um ferramental contemporâneo no intuito de maximizar a sua produtividade.

Seria isso o que podemos chamar de inclusão digital? Essa lógica de mercado, que visa criar consumidores ávidos por adquirir novos produtos, aliada a mera instrumentalização, que tem como objetivo capacitar mão de obra para o mercado de trabalho, podem ser consideradas como elementos para que alcancemos uma verdadeira inclusão digital?

Mesmo que a capacitação para o uso dos recursos tecnológicos e a democratização do acesso as tecnologias digitais, incluindo a ampliação dos acessos à internet com qualidade, sejam consideradas ações válidas, elas, por si só, não garantem que os sujeitos se tornem participantes ativos, produtores de conhecimento, cientes de sua realidade e capazes de transformar verdadeiramente as estruturas excludentes da sociedade.

A questão talvez seja não apenas incluir, mas como incluir. Uma verdadeira inclusão digital deve superar o pensamento de que incluir seja adaptar os sujeitos a um modelo existente, ela deve ser dotada de um significado que contribua para a articulação das pessoas no uso das tecnologias para que estas possam buscar sua autonomia diante das suas demandas.

E neste ponto, onde ficam as políticas públicas, grande parte das vezes desarticuladas e a mercê de interesses tão amplos e difusos que não conseguem alcançar nenhum objetivo concreto? E falando em objetivos, qual seriam os das políticas inclusivas? A quem eles atendem?

Quando vivermos em um país livre das desigualdades, é bem provável que os conceitos de inclusão não façam mais sentido...ou não!

Um comentário:

  1. Harlei, se o objetivo é "que os sujeitos se tornem participantes ativos, produtores de conhecimento, cientes de sua realidade e capazes de transformar verdadeiramente as estruturas excludentes da sociedade", tem sentido falar de "verdadeira inclusão digital"? inclusão só tem sentido enquanto num contexto excludente...
    pensar sobre... bjs

    ResponderExcluir