terça-feira, 3 de abril de 2012

Ciberdemocracia: o próximo passo da cibercultura?

No mundo atual, permeado e interconectado pelas tecnologias digitais, vários são os termos criados para identificar os movimentos surgidos e/ou potencializados por essas tecnologias. Um desses termos é a cibercultura.
Lemos caracteriza a cibercultura como a relação entre os computadores, as redes e os processos comunicacionais, fato que provocou profundas mudanças nos hábitos e práticas socioculturais e políticas da sociedade contemporânea. O autor afirma ainda que a cibercultura amplia as possibilidades de conscientização social através de práticas colaborativas e compartilhadas de troca, criação e circulação de informação, potencializados pelos princípios da cibercultura: emissão, conexão e reconfiguração.
A difusão de informações, outrora reinante na cultura massiva, perdeu sua força para um modo descentralizado de produzir, circular e recircular informações, onde qualquer pessoa tem a possibilidade de ser o agente da informação, criando, modificando, remixando e distribuindo em vários formatos e para qualquer parte do mundo, desviando o monopólio da informação das grandes empresas de mídia global.
O ciberespaço, tipico da cibercultura, expandiu os limites das fronteiras físicas e deu novos significados às palavras tempo e espaço. Em qualquer lugar do globo e a qualquer tempo é possível trocar informações e manter um alto grau de interatividade com um grande número de pessoas, com culturas, pensamentos e ideias diferentes, criando um ambiente colaborativo e compartilhado, favorecendo a criação de novas culturas e saberes e a construção de novos conhecimentos.
Com relação ao futuro da cibercultura, será que estamos mesmo caminhando para um mundo mais democrático, chamado por Lemos de ciberdemocracia, onde não existirão barreiras para uma comunicação livre, aberta e colaborativa, ou estaremos recriando uma comunicação padronizada, centralizada e monopolizada?
Mesmo concordando com a afirmação de Santaella, que alerta para o fato das redes digitais funcionarem apenas como canais para a transmissão de informações, não sendo as únicas responsáveis pelas transformações que estamos vivenciando, elas têm papel destacado e influenciaram extraordinariamente as revoluções socioculturais contemporâneas.
O suporte das tecnologias digitais foi fundamental para o advento da cibercultura, sendo que a sua expansão está intimamente ligada ao desenvolvimento tecnológico, que ora é visto como a solução para todos os problemas da humanidade, ora é visto como o grande responsável pela desumanização da sociedade. Dessa forma, vejo com mais atenção alguns movimentos que se apresentam na internet, em especial o advento da “cloud computing”, ou “computação em nuvem”.
Inicialmente, a ideia de armazenar dados de forma “centralizada”, que podem ser sincronizados e acessados em qualquer lugar, independente de plataforma computacional ou sistema operacional, parece algo bastante vantajoso e condizente com um munto globalizado e conectado. Porém, não é difícil imaginar a possibilidade de que grandes organizações unam suas infraestruturas para prover esses serviços com a intenção de formar espécies de cartéis informacionais e começar a ditar regras e privar esses espaços, que nasceram livres e descentralizados, como, no caso, a internet.
A possibilidade de controlar os acessos à nuvem, por exemplo, pode sugerir que futuramente não só a utilização dos softwares disponíveis seja cobrada, como também o próprio acesso às nossas informações pessoais seja cerceado, privando um grande número de pessoas de dispor dessas tecnologias.
De antemão, prefiro acreditar que na rede sempre haverá espaço para a liberdade, a colaboração, o compartilhamento e o ativismo, típicos da cibercultura, que continuem possibilitando a multiplicação dos saberes e o crescimento de uma consciência social e inteligência coletiva, que favoreçam a instauração de uma verdadeira democracia sócio-digital-cultural.

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